A virada do ano foi marcada por enchentes no Sul da Bahia e em Minas Gerais, que acarretaram quedas de barreiras, desabrigaram centenas de pessoas e levaram dezenas à morte.
A mídia burguesa divulgou fartamente notícias do acidente, em 8 de janeiro, no Canyon (paisagem natural, acidente geológico com cumprimento, profundidade e largura diferenciadas por processos erosivos) de Capitólio (MG), que vitimou dez pessoas, além da queda de barreira em uma estrada mineira praticamente no mesmo horário.
Também foi bem publicizado que o governo federal não ofereceu o suporte necessário no período mais crítico das chuvas: naquele momento, o presidente Bolsonaro desfrutava de férias extraoficiais no litoral do Sul do país. Depois foi anunciado o envio de recursos para 155 municípios baianos devastados pelas enchentes, porém o adiantamento desses recursos já era um direito previsto.
O grande tema desses episódios, além das mortes, é o das mudanças climáticas. Derretimento de geleiras, calor no Canadá, neve no Sul do Brasil, inverno fora do normal no sudeste brasileiro, etc. São vários problemas e tudo cai na conta do trabalhador como se ele fosse responsável pelos problemas ambientais por desperdiçar água e luz, poluir as praias e rios e jogar o lixo em locais adequados.
Evidente que não deve ser feito nada disso, mas isso não explica a causa desses problemas que está na forma da produção capitalista (poluente, desmatamento, produz coisas desnecessárias, etc).
Ao contrário dessa ideia reacionária, trabalhadores/as gostam de viver em ambientes limpos, com saneamento básico e acesso à água potável, ou seja, não são os causadores de poluição, mas as vítimas.
A causa das enchentes e quedas de barreiras e rochas é a fome de lucro capitalista
Chove pouco aqui e muito acolá, mas quem sofre é da mesma classe em qualquer lugar.
Sobre a queda da rocha de 10 toneladas que atingiu uma lancha com 10 pessoas em Capitólio pouco se acusou as empresas que saíram com as lanchas em uma manhã chuvosa. Houve especulação de uma possível tromba d’água no dia anterior, mas a mídia se calou com relação à exploração econômica da região por parte de grandes empresas.
Há três parques em construção para incrementar os atrativos turísticos na região, num megaprojeto que inclui a construção de um resort, ou seja, o solo de lá vinha sendo mexido. É a boiada do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, passando: extração ilegal de madeira, megaempreendimentos em áreas de proteção ambiental, legalização da caça esportiva, etc.
Há um discurso de colocar tanto esse acidente como o da queda do teto da Gruta Duas Bocas em Altinópolis (SP), que matou 09 bombeiros em treinamento, em outubro do ano passado, como eventos decorrentes e das forças da natureza. Isso é falso. A verdade é que capitalistas exploram os recursos naturais impunemente sem nenhuma preocupação em preservá-los.
O povo não recebeu assistência
Quanto aos 166 municípios da Bahia afetados pelas fortes chuvas e enchentes, vemos o de sempre. Se a chuva é algo da natureza, as consequências não ocorrem da mesma forma para todos: são os mais pobres que vivem nas beiras dos rios e das encostas que desabam e nos bairros de ruas que alagam.
Outros efeitos são a ameaça de epidemia de leptospirose como consequência da exposição à água suja, além de outras doenças como cólera, hepatite, dengue, chikungunya, influenza e Covid 19.
Só em Ilhéus, a inundação do Rio Cachoeira danificou 20 dos 25 postos de Saúde. Quem perde com isso são homens e mulheres que trabalham duro, moram em casas humildes e contam exclusivamente com a rede pública para cuidarem de sua saúde. O Ministério da Saúde prometeu o reforço de 109 médicos e enviou apenas 58, pois o governador da Bahia é do PT e não pode ser fortalecido.
Na mesma toada Bolsonaro recusou ajuda humanitária da Argentina para a Bahia. Essa é a preocupação de Bolsonaro com a vida das pessoas…
Barragens tiram vidas que valem pouco para o capital
Há três anos houve a ruptura da barragem Brumadinho (MG). Outra vez a Vale, controladora da Samarco, era ré de um acidente com 262 vítimas fatais (algumas ainda desaparecidas) e um enorme prejuízo para o meio ambiente (animais mortos, rios poluídos, vegetação devastada). E em 2015 já havia ocorrida a tragédia em Mariana, com 19 mortos.
Depois desse tempo todo, várias indenizações ainda estão pendentes, mesmo sendo calculadas após a Reforma Trabalhista, o que diminuiu o valor a ser pago às famílias das vítimas. O absurdo que a Vale chamou de “exorbitante” a sentença que definiu o valor de 1 milhão por danos morais por cada trabalhador morto. Quanto vale a vida para uma empresa que lucrou R$ 40 bi só primeiro trimestre do ano passado?
Solidariedade com as vítimas é pouco. É necessário um sistema justo
Engels, no século XIX, observou que as habitações dos operários ingleses eram entranhadas no fedor dos rios poluídos. De lá para cá a tecnologia avançou muito, experiências socialistas surgiram e se deterioraram e o sistema capitalista seguiu aprimorando sua exploração. O que nunca fez, foi utilizar seus conhecimentos técnicos para poupar a vida dos pobres.
Em 2010, no Morro do Bumba, em Niterói (RJ), houve um deslizamento de terra que matou muitas pessoas, sem chances de sobrevivência e nem de resgate dos soterrados, devido ao gás produzido na área, um lixão (que já pelo fedor era motivo de socorro). O prefeito sabia dos barracos construídos no local, mas a população nunca foi alertada do risco que corria.
Não muito diferente do caso de Brumadinho em que documentos falsos atestaram a estabilidade da barragem e pagar as indenizações foi mais barato que fazer manutenção. Quem destrói o meio ambiente é o capitalismo!
Somente em uma sociedade justa e igualitária, construída sobre valores socialistas, as vidas de todos terão o mesmo valor e as verdadeiras causas das mudanças climáticas (todas derivadas do desejo de lucro da classe capitalista) serão corrigidas.