Ser educador/a, por si só, já é uma tarefa difícil, é nadar contra a maré. Agora, se é educador/a em uma escola pública da periferia é nadar contra a maré e também contra toda a correnteza, que puxa para o lado oposto ao que se tenta nadar.
A escola pública carrega diversos problemas, desde a estrutura física dos prédios até questões do ensino-aprendizagem e os “exteriores” que acometem alunos/as.
Em relação aos problemas “internos”, sendo o primeiro, a própria formação dos alunos/as e a prática propriamente dita de professores, a escola carrega em sua base a pedagogia liberal. Ou seja, uma pedagogia voltada para os resultados, porém, quais resultados? A formação como “mão de obra” e com ensino técnico-mecânicista para alunos/as da rede pública, enquanto é posto de lado o ensino mais aprofundado cientificamente, contribuem para alienar às questões científicas e para aprender a se virar como “mão de obra”.
Com o Novo Ensino Médio, essa tática vai se manter ainda mais potente, uma vez que a metodologia liberal proposta pelos governos da burguesia busca criar no imaginário dos alunos/as que não são “mãos de obra”, mas, sim, que poderão ser empreendedores/as.
Empreendedores/as, mesmo quando realizam trabalhos insalubres, são entregadores de aplicativos, têm emprego registrado sem nenhum direito, são colaboradores da empresa, etc. Termos que carregam práticas ideológicas e criam no imaginário, junto com disciplinas do Novo Ensino Médio, a vontade em meio à crise econômica e a necessidade pós Covid-19 de se tornarem empresários/as ou coisa parecida.
Portanto, em relação à Educação em si, esses problemas trazem uma formação vazia e alienante, ou seja, um ensino defasado do começo ao fim. Outro fato não menos importante, um outro problema estrutural da escola pública, é a condição de trabalho de professores/as, ou seja, de ensino em sala de aula. Em relação ao espaço físico, as escolas carecem de reformas e reformas, vidros quebrados, paredes danificadas, vazamentos, falta de segurança, etc. Em relação ao ensino, os aparelhos de tecnologia como televisões, computadores e outros precisam ser trocados (não pegam, estão deteriorados, sem sinal de conexão). Já em relação às lousas e carteiras é o mesmo problema, muitas danificadas e quebradas (de alunos e professores). Há, ainda, escolas que faltam papel higiênico, objetos para higiene pessoal, contra Covid-19, etc. tanto para professores quanto para alunos.
Existem escolas necessitando de reformas urgentes e nada acontece, desde funcionários/as da limpeza da escola até a direção trabalham como dá, como podem devido à falta de verbas nas escolas.
Portanto, os professores precisam trabalhar, na maioria dos casos, em condições insalubres, às vezes, sem giz. Ou seja, o problema estrutural da escola pública, em vários aspectos, é um projeto por parte do governo.
As escolas públicas, principalmente, de regiões periféricas estão cada vez mais distantes da comunidade, isso se reflete também na relação com os alunos/as que são parte das comunidades ao redor da escola. A escola não conversa com a comunidade, não anda na comunidade, não chama a comunidade para dentro e, cada vez mais, até espanta essa comunidade.
A escola é um braço do Estado, uma vez que carrega suas ideologias e suas estruturas. Claro que existem profissionais dentro da escola que nadam contra a maré, mas, ainda assim, existe toda uma estrutura para ser quebrada. Sendo assim, qual é o modo que a escola opera nessas regiões em que está inserida, includente ou excludente? Atuante ou Passiva? Autoritária ou democrática?
São muitas as questões que permeiam a escola pública. Ser educador/a em uma escola pública é uma tarefa muito difícil, especialmente para quem está chegando. Têm momentos de realizações quando se conquista alunos/as e é desenvolvido trabalhos de conscientização social e humana em sala de aula e no bairro com a participação da maioria de alunos/as.
Porém, é necessário pensar uma escola libertária, uma escola com pedagogia/metodologia libertadora e Freiriana, em que alunos/as são, sobretudo, parte principal do pensamento científico e não somente, receptores de conteúdos tecnicistas sem senso crítico algum como na escola atual. É mais que necessário transformar esse ambiente escolar, abrir caminhos para a juventude da classe trabalhadora. Só após a revolução transformaremos a escola a partir da raiz dos problemas, mas é urgente que professores/as e alunos/as impulsionemos uma Educação, essencialmente, libertária e anticapitalista.